sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Hipotéticas bandeiras para as Áreas Metropolitanas e Comunidades Intermunicipais de Portugal

Durante o Referendo à Regionalização de 1998, a comunidade vexilológica da então incipiente Internet portuguesa afanou-se na criação de propostas de bandeiras para as regiões em discussão (incluindo paródias).

A maioria das propostas compunha-se de um conjunto mais ou menos avulso de bandeiras, sem grande relação entre si, mas um dos autores (cujo nome não fixei) apresentava uma solução elegante, uma verdadeira família de bandeiras, com todos os designs a seguirem um padrão comum, ainda que cada bandeira retivesse a sua individualidade.

A ideia era conceptualmente simples:

  • Todas as bandeiras seriam bicolores (branco + outra cor), com o campo dividido diagonalmente;
  • A “outra cor” variaria de região para região, sem se repetir, o que ajudaria a distinguir umas bandeiras das outras;
  • Cada região teria um símbolo estilizado único que encapsularia a identidade regional; este símbolo, da cor atribuída a cada região, figuraria na metade branca da bandeira, em posição de cantão.

Infelizmente, penso que o site onde estas bandeiras (e as restantes propostas) foram apresentadas já não existe. No entanto, e apesar de já terem passado mais de 25 anos, creio que me recordo da maior parte das cores e símbolos propostos:

  • Entre Douro e Minho
    • Cor: Azul claro
    • Símbolo: Quinas
    • Explicação: Esta região foi o “berço” do Reino de Portugal
  • Trás-os-Montes e Alto Douro
    • Cor: Castanho
    • Símbolo: Folha de carvalho
    • Explicação: Árvore abundante no Nordeste Transmontano
    • Nota: Fruto da dualidade da região, o Alto Douro Vinhateiro ficava de facto por representar
  • Beira Litoral
    • Cor: Azul escuro (creio)
    • Símbolo: Barco (creio)
    • Explicação: Não me recordo...
      (Creio que o barco era uma carraca, ou algo assim.)
  • Beira Interior
    • Cor: Preto
    • Símbolo: Torre medieval
    • Explicação: A profusão de castelos medievais a protegerem a fronteira com Castela
  • Estremadura e Ribatejo
    • Cor: Vermelho
    • Símbolo: Cruz de Cristo
    • Explicação: Nesta região fica Tomar, sede da Ordem de Cristo
  • Lisboa e Setúbal
    • Cor: Púrpura
    • Símbolo: Cruz de Sant’Iago
    • Explicação: Boa parte dos castelos desta região foram reconquistados aos Mouros com importante contributo da Ordem de Sant’Iago
  • Alentejo
    • Cor: Verde
    • Símbolo: Cruz de Aviz
    • Explicação: Nesta região fica a vila que dá nome à Ordem de São Bento de Avis
  • Algarve
    • Cor: Amarelo
    • Símbolo: Astrolábio
    • Explicação: Papel do Algarve na expansão marítima portuguesa (mito da dita «Escola de Sagres»)

A regionalização do território do Continente seria rejeitada nas urnas, pelo que as bandeiras propostas (estas ou outras) nunca tomaram corpo.

No entanto, durante a segunda década do séc. XX, as até então sub-regiões (NUTS3) com fins meramente estatísticos assumiram, no Continente, o estatuto de associações de municípios (Áreas Metropolitanas ou Comunidades Intermunicipais) de cariz mais ou menos voluntário. As suas competências ficam aquém das que as verdadeiras regiões administrativas teriam, mas é possível que gradualmente se caminhe para lá.

Surgiu-me, por isso, a ideia de criar uma bandeira para cada sub-região, seguindo os mesmos princípios da proposta que apresentei antes. De facto, “repesquei” (de memória) todas as bandeiras de 1998 de que me recordo. Dado o número de sub-regiões, não foi possível manter o princípio de não haver duas bandeiras com a mesma cor (ou cores muito semelhantes e confundíveis).

Eis o resultado:

Comunidade Intermunicipal do ALTO MINHO

  • Cor: Púrpura
  • Símbolo: Serpente enrolada sobre si própria
  • Explicação: Lenda romana de Ofiússa, mítica região a norte do Rio Cávado (tal como esta sub-região está a norte da sub-região do Cávado)
  • Nota: A cor não tem de ser necessariamente esta, mas, tendo em conta a serpente, pareceu-me apropriada

Comunidade Intermunicipal do CÁVADO

  • Cor: Verde
  • Símbolo: Borlas heráldicas de arcebispo primaz
  • Explicação: Nesta sub-região fica a cidade de Braga
  • Nota: A cor tem de ser mesmo verde, pois é a das borlas de arcebispo primaz

Comunidade Intermunicipal do AVE

  • Cor: Azul claro
  • Símbolo: Quinas
  • Explicação: Nesta sub-região fica Guimarães, a «Cidade-Berço» de Portugal
  • Nota: Corresponde à bandeira proposta em 1998 para a região de Entre Douro e Minho

Comunidade Intermunicipal do ALTO TÂMEGA

  • Cor: Azul escuro
  • Símbolo: Fonte termal
  • Explicação: Existência de diversas termas famosas: Pedras Salgadas, Vidago, Chaves, Carvalhelhos, etc.

Comunidade Intermunicipal das TERRAS DE TRÁS-OS-MONTES

  • Cor: Castanho
  • Símbolo: Folha de carvalho
  • Explicação: Árvore abundante no Nordeste Transmontano
  • Nota: Corresponde à bandeira proposta em 1998 para a região de Trás-os-Montes e Alto Douro

Comunidade Intermunicipal do DOURO

  • Cor: Lilás
  • Símbolo: Folha de videira
  • Explicação: Alto Douro Vinhateiro
  • Nota: A cor poderia ser mais próxima do bordeaux (“cor de vinho”), mas confundir-se-ia mais com o púrpura; o lilás torna a bandeira mais distinta, sem se afastar demasiado da simbologia

Comunidade Intermunicipal do TÂMEGA E SOUSA

  • Cor: Púrpura
  • Símbolo: Pórtico românico estilizado, com a base ondulada
  • Explicação: Símbolo inspirado no da Rota do Românico, que coincide aproximadamente com a sub-região; o ondulado representa os dois rios, Tâmega e Sousa
  • Nota: A cor não tem de ser necessariamente esta

Área Metropolitana do PORTO

  • Cor: Preto
  • Símbolo: Dois canhões antigos cruzados
  • Explicação: Porto, «Cidade Invicta» (cerco do Porto durante as Guerras Liberais)
  • Nota: A cor não tem de ser necessariamente esta, mas, tendo em conta os canhões, pareceu-me a mais apropriada

Comunidade Intermunicipal de VISEU-DÃO-LAFÕES

  • Cor: Vermelho
  • Símbolo: Escudo lusitano e falcata (espada lusitana)
  • Explicação: Nesta sub-região fica Viseu, considerada pelos portugueses como «Cidade de Viriato»
  • Nota: A cor não tem de ser necessariamente esta; escolhi-a por ser uma das cores da bandeira do município de Viseu

Comunidade Intermunicipal das BEIRAS E SERRA DA ESTRELA

  • Cor: Preto
  • Símbolo: Torre medieval encimada por estrela de seis pontas
  • Explicação: A profusão de castelos medievais a protegerem a fronteira com Castela; a importância histórica das comunidades judaicas (nomeadamente a de Belmonte)
  • Nota 1: Com excepção do acrescento da estrela, corresponde à bandeira proposta em 1998 para a região da Beira Interior
  • Nota 2: Apresento duas versões ligeiramente diferentes, pois não consigo decidir se prefiro a torre mais simples ou a mais detalhada

Comunidade Intermunicipal da BEIRA BAIXA

  • Cor: Laranja escuro
  • Símbolo: Cabeça de lince
  • Explicação: Esta sub-região inclui o município de Penamacor, onde se situa a maior parte da Reserva Natural da Serra da Malcata, cujo ex-libris é o lince ibérico
  • Nota: A cor não tem de ser necessariamente esta, mas, tendo em conta o lince, pareceu-me a mais apropriada

Comunidade Intermunicipal do MÉDIO TEJO

  • Cor: Vermelho
  • Símbolo: Cruz de Cristo
  • Explicação: Nesta sub-região fica Tomar, sede da Ordem de Cristo
  • Nota: Corresponde à bandeira proposta em 1998 para a região da Estremadura e Ribatejo

Comunidade Intermunicipal da REGIÃO DE AVEIRO

  • Cor: Azul escuro
  • Símbolo: Proa de um moliceiro
  • Explicação: Barco típico da Ria de Aveiro

Comunidade Intermunicipal da REGIÃO DE COIMBRA

  • Cor: Preto
  • Símbolo: Livro aberto
  • Explicação: A Universidade de Coimbra e a cor do traje de estudante

Comunidade Intermunicipal da REGIÃO DE LEIRIA

  • Cor: Verde
  • Símbolo: Três pinheiros encimados por coroa real medieval
  • Explicação: O Pinhal de Leiria, mandado plantar pelo rei D. Dinis

Comunidade Intermunicipal do OESTE

Apresento duas versões absolutamente diferentes (não me consigo decidir):

  • Versão 1:
    • Cor: Amarelo
    • Símbolo: Pêra
    • Explicação: A fruticultura da sub-região, particularmente a famosa pêra-rocha

  • Versão 2:
    • Cor: Azul intermédio
    • Símbolo: Ondas
    • Explicação: As ondas gigantes da sua costa, nomeadamente na Nazaré

Área Metropolitana de LISBOA

  • Cor: Púrpura
  • Símbolo: Cruz de Sant’Iago
  • Explicação: Boa parte dos castelos desta região foram reconquistados aos Mouros com importante contributo da Ordem de Sant’Iago
  • Nota: Corresponde à bandeira proposta em 1998 para a região de Lisboa e Setúbal

Comunidade Intermunicipal da LEZÍRIA DO TEJO

  • Cor: Verde
  • Símbolo: Campino a cavalo
  • Explicação: A sub-região corresponde em boa parte com a região tradicional do Ribatejo
  • Nota: O símbolo poderá ser mais estilizado do que o apresentado (foi o que consegui...)

Comunidade Intermunicipal do ALTO ALENTEJO

  • Cor: Verde
  • Símbolo: Cruz de Aviz
  • Explicação: Nesta sub-região fica a vila que dá nome à Ordem de São Bento de Avis
  • Nota: Corresponde à bandeira proposta em 1998 para a região do Alentejo

Comunidade Intermunicipal do ALENTEJO CENTRAL

  • Cor: Vermelha
  • Símbolo: Ruínas do Templo romano de Évora (vulgo, «Templo de Diana»)
  • Explicação: Importante monumento da sub-região
  • Nota: A cor não tem de ser necessariamente esta; escolhi-a por ser uma das cores da bandeira do município de Évora

Comunidade Intermunicipal do BAIXO ALENTEJO

  • Cor: Laranja algo claro
  • Símbolo: Sobreiro
  • Explicação: Árvore que domina a paisagem de montado da sub-região
  • Nota: A cor não tem de ser necessariamente esta, mas creio que o laranja claro transmite bem a sensação de calor

Comunidade Intermunicipal do ALENTEJO LITORAL

  • Cor: Azul intermédio
  • Símbolo: Golfinho
  • Explicação: Mamífero marinho existente no Estuário do Sado (e não sei se também na costa atlântica da sub-região)

Comunidade Intermunicipal do ALGARVE

  • Cor: Amarelo
  • Símbolo: Astrolábio
  • Explicação: Papel do Algarve na expansão marítima portuguesa (mito da dita «Escola de Sagres»)
  • Nota: É a bandeira já proposta em 1998

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Pseudo-brasão do Grupo de Montanhismo de Vila Real

Estou no banco e entra uma pessoa para tratar dos assuntos de uma associação.

— Ah, é dos Caminheiros, não é? — pergunta a bancária.

— Não me insulte. Nós andamos assim [gesto diagonal ascendente], não andamos assim [gesto horizontal].

Era do Grupo de Montanhismo de Vila Real. 🤣

Não resisti a criar-lhes um símbolo alternativo:

O mote em latim significa «Andamos assim, não dessa outra [maneira], por favor!»

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Dr. K and Mr. Hive | When Boogie-Woogie Buddies Become Basturd Bullies | #pianogate @DrKBoogieWoogie

O meu comentário ao Pianogate, o escândalo que envolveu o pianista Brendan Kavanagh (Dr. K) e um grupo de chineses ao serviço de uma televisão chinesa na estação de comboios de Saint Pancras (Londres).

É uma história demasiado longa; o melhor mesmo é ver os vídeos sugeridos mais abaixo.

Vídeos sugeridos:

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Carimbo Farmácia Galeno

Carimbo da farmácia de uns amigos, para uso nos “passaportes” do Caminho Português Interior de Santiago e da Rota da Estrada Nacional 2.

domingo, 24 de setembro de 2023

Brasão de Dona Joaninha d’Arc e Sampaio

A Joaninha e o seu irmão gémeo foram deixados numa quinta perto da cidade onde vivemos, quando tinham uns dois meses de vida.

O irmão logo teria um triste destino, provavelmente vítima de uma matilha de cães, mas a Joanhinha encontraria refúgio debaixo de umas silvas e mais tarde num telheiro abandonado e quase em ruínas, onde um labirinto de cepas de videira oferecia alguma protecção contra os cães ameaçadores. (Nós melhoraríamos as suas defesas vedando a entrada do telheiro com alguns metros de rede de galinheiro que encontrámos por ali.)

A Joaninha viveria nesse telheiro 11 dias, durante os quais nós a alimentaríamos regularmente e, aos poucos, ganharíamos a sua confiança. Então, em Julho, conseguimos finalmente resgatá-la. Ela ofereceu resistência simbólica, mas não mais do que isso. E desde então capturou os nossos corações.

O brasão da Joaninha foi inspirada nas cores dela (é uma gata tricolor), no brasão de armas de Joana d’Arc, e na história contada antes.

O mote em latim significa «À falta de melhores presas, até vasos de flores são caçados» — mas isso é uma longa história.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

domingo, 5 de fevereiro de 2023

Topónimos portugueses “transplantados” para o Brasil: estado de Pernambuco

Desconfio que o facto de a cidade de Pesqueira e a localidade de Cimbres (no mesmo município pernambucano) estarem tão perto (15 km em linha recta) e São João da Pesqueira e Cimbres (esta no município de Armamar), em Portugal, estarem também relativamente perto (27 km em linha recta) não será mera coincidência: terão as localidades pernambucanas sido fundadas mais ou menos ao mesmo tempo por colonizadores da região do Douro?

Topónimos portugueses “transplantados” para o Brasil: estado do Paraná

Topónimos portugueses “transplantados” para o Brasil: estado da Paraíba

Desconfio que o facto de Sousa e Aguiar, na Paraíba, estarem relativamente perto (37 km em linha recta) e Sousa e Aguiar de Sousa, em Portugal, estarem também relativamente perto (29 km em linha recta) não será mera coincidência: terão as cidades paraibanas sido fundadas mais ou menos ao mesmo tempo por colonizadores da região do cale do Rio Sousa?

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Brasão de Dom Nero Aparício Vaz e Bessa, Cavaleiro de Oliveira

O Nero foi encontrado há exactamente um ano, escondido na roda de carro numa oficina de reparação automóvel, quando tinha apenas umas poucas semanas de vida.

Chamámos-lhe «Nero» por ser preto; «Aparício», por ter sido encontrado; e «Vaz e Bessa», por ser esse o nome da oficina onde apareceu.

As chamas vermelhas representam o intenso amor que logo despertou em nós, mas são também uma referência ao epónimo imperador romano Nero (e daí os louros dourados)

O Nero adora trepar a uma oliveira anã que temos no terraço, o que lhe valeu o título de cavalaria.

O mote em latim significa «Negro É Belo».

domingo, 5 de dezembro de 2021

Thick Blue Lie

Sempre que (particularmente nos Estados Unidos) surgem críticas à violência policial e ao abuso de autoridade por parte das forças supostramente «da ordem», surgem também, em reacção, referências veementes à «Thin Blue Line» (Estreita Linha Azul), frequentemente representada por uma versão alterada da bandeira americana.

A ideia subjacente é a de que a Polícia (cujo uniforme é tradicionalmente azul) constitui uma «linha estreita» que protege a Sociedade, separando-a do caos.

É uma ideia bonita, diria mesmo, poética, mas profundamente desfasada da realidade, particularmente no país em questão, onde a Polícia, mais do que proteger e servir a Sociedade, se protege e se serve a si própria e aos seus membros.

Esta «Thin Blue Line» é, por isso, mais um código de silêncio: quando algum agente da Polícia comete um crime, toda a corporação se cala, mente e apoia o acusado, perpetuando a impunidade com que os agentes actuam. Por essa razão, os críticos desta postura pessoal e institucional apelidam a «Thin Blue Line» de «Blue Wall of Silence» (Muro Azul de Silêncio).

Mas, como eu disse, a Polícia não se limita a calar aquilo que sabe sobre a conduta criminosa dos seus agentes. De facto, a Polícia activamente mente e adultera ou falsifica provas.

Por isso, mais do que um mero «Muro Azul de Silêncio», estamos perante uma «Grande Mentira Azul» ou, como melhor se diria em inglês, «a Thick Blue Lie».

A bandeira que se segue representa essa realidade.

Police Lie - Do Not Cross