sexta-feira, 23 de agosto de 2024

35 anos da «Cadeia Báltica» («Baltic Way»)

Foi precisamente há trinta e cinco anos (23 de Agosto de 1989) que os movimentos independentistas da Lituânia, da Letónia e da Estónia — à data, repúblicas da União Soviética — organizaram aquela que é uma das mais impressionantes manifestações políticas pacíficas da História mundial. Eu tinha 17 anos e lembro-me bem.

Num tempo em que, sob a Perestroika, a máquina repressiva soviética se esboroava lentamente, uma quantidade impressionante de lituanos, letões e estónios — as estimativas variam entre 1 e 2 milhões de participantes — deram literalmente mãos para formar uma cadeia humana de quase 700 quilómetros de extensão unindo as suas capitais (Vilnius, Riga e Tallinn) como forma de protesto contra a anexação soviética ocorrida então exactamente 50 anos antes, na sequência do Pacto de Não-Agressão Nazi-Soviético.

Há uns meses, o canal de Youtube Flags in Focus organizou um concurso de design de bandeiras tendo como tema os países bálticos. Soube imediatamente que queria participar, e que a minha bandeira seria uma homenagem àquela que ficou conhecida como a «Cadeia Báltica» («Baltic Way» ou «Baltic Chain» em inglês).

À bandeira resultante chamei «Baltic Way 35»:

O azul representa o Mar Báltico que banha os três países.
A linha ondulada amarela representa a prosperidade resultante do realinhamento com o Ocidente e a União Europeia em particular; invoca também o comércio do âmbar, historicamente importante na região báltica durante a Antiguidade e a Idade Média.
O vermelho representa a determinação em recuperar a independência.
A linha ondulada branca com folhas representa o desejo de uma vida em paz, livre dos horrores da opressão russa, representados pela cor negra.

(Em todo o rigor, a bandeira que submeti a concurso — que não ganhei... — não foi exactamente esta; na versão original, a linha ondulada à esquerda era também branca, não havendo qualquer referência a prosperidade ou ao âmbar; apenas o número de “bossas” — três — foi escolhido para corresponder ao número de países.)

Duas coincidências curiosas:

1. Foi só depois de a bandeira estar pronta que reparei numa simbologia numérica escondida no desenho: o número de “bossas” da linha ondulada amarela (3) e o número de folhas na linha ondulada branca (5) formam o número 35, exactamente o número de anos que passaram desde a manifestação de 1989.

2. Foi também só depois de a bandeira estar pronta que descobri que em 2014, por altura dos 25 anos da «Cadeia Báltica», a Lituânia emitiu moedas comemorativas em que um caule com três folhas unia os três países bálticos.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Bandeira dos Palindromistas

O símbolo no centro é um pi maiúsculo, a letra inicial da palavra «Palíndromo» em grego (Παλίνδρομος), apropriadamente uma letra com simetria horizontal.

Bandeira inspirada no logótipo que aparece no minuto 3:45 deste vídeo:

sexta-feira, 1 de março de 2024

Vectorização de bandeiras municipais: Bahia (parte 2)

Criação, para a Wikipédia/Wikimedia, de versões SVG das bandeiras de alguns municípios do estado brasileiro da Bahia:

Aiquara

Antônio Cardoso

Boninal

Bonito

Itanagra

São Felipe

(Parte 1)

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Comunidade Ucraniana em Portugal (propostas de bandeiras)

No dia em que se assinala o segundo ano da brutal invasão da Ucrânia por parte da Rússia, a minha homenagem à comunidade ucraniana residente em Portugal.

Slava Ukraini!

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Brasão de Lord Lótus

Como inspiração para este brasão, eu tinha apenas uma foto do Lótus e um pequeno parágrafo:

«Lord Lótus — o mais doce, mais fiel, mais humilde e mais grato de todos.
Atropelado com 9 meses. Pata desfeita. Cirurgia. Abrigo. Nova intervenção. Família de Acolhimento Temporário cá em casa... Até hoje.
☺️
O meu anjo, guardião e companhia incondicional.»

O elemento central do design é evidente: uma flor de lótus, conforme o seu nome.

O triângulo vermelho ocupando o terço superior do escudo é uma referência à bandana vermelha que o Lótus sempre usa ao pescoço.

O mote latim, «Ubi tu Gaia ibi ego Gaius» («Onde tu fores Gaia, aí eu serei Gaio»), é uma inversão dos votos matrimoniais das mulheres da Roma antiga, um compromisso de fidelidade e companheirismo.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Comunidade Judaica Portuguesa (e diáspora) — parte 2

Quase três anos depois, uma segunda tentativa de desenhar uma bandeira para a comunidade judaica portuguesa.

(veja aqui a parte 1)

Versões 2c e 2d (redução do número de “pés” da menorá, para se tornar mais reconhecível enquanto tal):

Versões 3a, 3b e 3c (substituição da esfera armilar pela Estrela de David; na versão 3b, os castelos são também substituídos por menorás):

Versões 4a e 4b (iguais às versões 3a e 3b, mas com uma Estrela de David de maiores dimensões, pois nas versões anteriores fica quase coberta pelo escudo):

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Wackypedia: léxico geral (7)

Hipotéticas bandeiras para as Áreas Metropolitanas e Comunidades Intermunicipais de Portugal

Durante o Referendo à Regionalização de 1998, a comunidade vexilológica da então incipiente Internet portuguesa afanou-se na criação de propostas de bandeiras para as regiões em discussão (incluindo paródias).

A maioria das propostas compunha-se de um conjunto mais ou menos avulso de bandeiras, sem grande relação entre si, mas um dos autores (cujo nome não fixei) apresentava uma solução elegante, uma verdadeira família de bandeiras, com todos os designs a seguirem um padrão comum, ainda que cada bandeira retivesse a sua individualidade.

A ideia era conceptualmente simples:

  • Todas as bandeiras seriam bicolores (branco + outra cor), com o campo dividido diagonalmente;
  • A “outra cor” variaria de região para região, sem se repetir, o que ajudaria a distinguir umas bandeiras das outras;
  • Cada região teria um símbolo estilizado único que encapsularia a identidade regional; este símbolo, da cor atribuída a cada região, figuraria na metade branca da bandeira, em posição de cantão.

Infelizmente, penso que o site onde estas bandeiras (e as restantes propostas) foram apresentadas já não existe. No entanto, e apesar de já terem passado mais de 25 anos, creio que me recordo da maior parte das cores e símbolos propostos:

  • Entre Douro e Minho
    • Cor: Azul claro
    • Símbolo: Quinas
    • Explicação: Esta região foi o “berço” do Reino de Portugal
  • Trás-os-Montes e Alto Douro
    • Cor: Castanho
    • Símbolo: Folha de carvalho
    • Explicação: Árvore abundante no Nordeste Transmontano
    • Nota: Fruto da dualidade da região, o Alto Douro Vinhateiro ficava de facto por representar
  • Beira Litoral
    • Cor: Azul escuro (creio)
    • Símbolo: Barco (creio)
    • Explicação: Não me recordo...
      (Creio que o barco era uma carraca, ou algo assim.)
  • Beira Interior
    • Cor: Preto
    • Símbolo: Torre medieval
    • Explicação: A profusão de castelos medievais a protegerem a fronteira com Castela
  • Estremadura e Ribatejo
    • Cor: Vermelho
    • Símbolo: Cruz de Cristo
    • Explicação: Nesta região fica Tomar, sede da Ordem de Cristo
  • Lisboa e Setúbal
    • Cor: Púrpura
    • Símbolo: Cruz de Sant’Iago
    • Explicação: Boa parte dos castelos desta região foram reconquistados aos Mouros com importante contributo da Ordem de Sant’Iago
  • Alentejo
    • Cor: Verde
    • Símbolo: Cruz de Aviz
    • Explicação: Nesta região fica a vila que dá nome à Ordem de São Bento de Avis
  • Algarve
    • Cor: Amarelo
    • Símbolo: Astrolábio
    • Explicação: Papel do Algarve na expansão marítima portuguesa (mito da dita «Escola de Sagres»)

A regionalização do território do Continente seria rejeitada nas urnas, pelo que as bandeiras propostas (estas ou outras) nunca tomaram corpo.

No entanto, durante a segunda década do séc. XX, as até então sub-regiões (NUTS3) com fins meramente estatísticos assumiram, no Continente, o estatuto de associações de municípios (Áreas Metropolitanas ou Comunidades Intermunicipais) de cariz mais ou menos voluntário. As suas competências ficam aquém das que as verdadeiras regiões administrativas teriam, mas é possível que gradualmente se caminhe para lá.

Surgiu-me, por isso, a ideia de criar uma bandeira para cada sub-região, seguindo os mesmos princípios da proposta que apresentei antes. De facto, “repesquei” (de memória) todas as bandeiras de 1998 de que me recordo. Dado o número de sub-regiões, não foi possível manter o princípio de não haver duas bandeiras com a mesma cor (ou cores muito semelhantes e confundíveis).

Eis o resultado:

Comunidade Intermunicipal do ALTO MINHO

  • Cor: Púrpura
  • Símbolo: Serpente enrolada sobre si própria
  • Explicação: Lenda romana de Ofiússa, mítica região a norte do Rio Cávado (tal como esta sub-região está a norte da sub-região do Cávado)
  • Nota: A cor não tem de ser necessariamente esta, mas, tendo em conta a serpente, pareceu-me apropriada

Comunidade Intermunicipal do CÁVADO

  • Cor: Verde
  • Símbolo: Borlas heráldicas de arcebispo primaz
  • Explicação: Nesta sub-região fica a cidade de Braga
  • Nota: A cor tem de ser mesmo verde, pois é a das borlas de arcebispo primaz

Comunidade Intermunicipal do AVE

  • Cor: Azul claro
  • Símbolo: Quinas
  • Explicação: Nesta sub-região fica Guimarães, a «Cidade-Berço» de Portugal
  • Nota: Corresponde à bandeira proposta em 1998 para a região de Entre Douro e Minho

Comunidade Intermunicipal do ALTO TÂMEGA

  • Cor: Azul escuro
  • Símbolo: Fonte termal
  • Explicação: Existência de diversas termas famosas: Pedras Salgadas, Vidago, Chaves, Carvalhelhos, etc.

Comunidade Intermunicipal das TERRAS DE TRÁS-OS-MONTES

  • Cor: Castanho
  • Símbolo: Folha de carvalho
  • Explicação: Árvore abundante no Nordeste Transmontano
  • Nota: Corresponde à bandeira proposta em 1998 para a região de Trás-os-Montes e Alto Douro

Comunidade Intermunicipal do DOURO

  • Cor: Lilás
  • Símbolo: Folha de videira
  • Explicação: Alto Douro Vinhateiro
  • Nota: A cor poderia ser mais próxima do bordeaux (“cor de vinho”), mas confundir-se-ia mais com o púrpura; o lilás torna a bandeira mais distinta, sem se afastar demasiado da simbologia

Comunidade Intermunicipal do TÂMEGA E SOUSA

  • Cor: Púrpura
  • Símbolo: Pórtico românico estilizado, com a base ondulada
  • Explicação: Símbolo inspirado no da Rota do Românico, que coincide aproximadamente com a sub-região; o ondulado representa os dois rios, Tâmega e Sousa
  • Nota: A cor não tem de ser necessariamente esta

Área Metropolitana do PORTO

  • Cor: Preto
  • Símbolo: Dois canhões antigos cruzados
  • Explicação: Porto, «Cidade Invicta» (cerco do Porto durante as Guerras Liberais)
  • Nota: A cor não tem de ser necessariamente esta, mas, tendo em conta os canhões, pareceu-me a mais apropriada

Comunidade Intermunicipal de VISEU-DÃO-LAFÕES

  • Cor: Vermelho
  • Símbolo: Escudo lusitano e falcata (espada lusitana)
  • Explicação: Nesta sub-região fica Viseu, considerada pelos portugueses como «Cidade de Viriato»
  • Nota: A cor não tem de ser necessariamente esta; escolhi-a por ser uma das cores da bandeira do município de Viseu

Comunidade Intermunicipal das BEIRAS E SERRA DA ESTRELA

  • Cor: Preto
  • Símbolo: Torre medieval encimada por estrela de seis pontas
  • Explicação: A profusão de castelos medievais a protegerem a fronteira com Castela; a importância histórica das comunidades judaicas (nomeadamente a de Belmonte)
  • Nota 1: Com excepção do acrescento da estrela, corresponde à bandeira proposta em 1998 para a região da Beira Interior
  • Nota 2: Apresento duas versões ligeiramente diferentes, pois não consigo decidir se prefiro a torre mais simples ou a mais detalhada

Comunidade Intermunicipal da BEIRA BAIXA

  • Cor: Laranja escuro
  • Símbolo: Cabeça de lince
  • Explicação: Esta sub-região inclui o município de Penamacor, onde se situa a maior parte da Reserva Natural da Serra da Malcata, cujo ex-libris é o lince ibérico
  • Nota: A cor não tem de ser necessariamente esta, mas, tendo em conta o lince, pareceu-me a mais apropriada

Comunidade Intermunicipal do MÉDIO TEJO

  • Cor: Vermelho
  • Símbolo: Cruz de Cristo
  • Explicação: Nesta sub-região fica Tomar, sede da Ordem de Cristo
  • Nota: Corresponde à bandeira proposta em 1998 para a região da Estremadura e Ribatejo

Comunidade Intermunicipal da REGIÃO DE AVEIRO

  • Cor: Azul escuro
  • Símbolo: Proa de um moliceiro
  • Explicação: Barco típico da Ria de Aveiro

Comunidade Intermunicipal da REGIÃO DE COIMBRA

  • Cor: Preto
  • Símbolo: Livro aberto
  • Explicação: A Universidadede Coimbra e a cor do traje de estudante

Comunidade Intermunicipal da REGIÃO DE LEIRIA

  • Cor: Verde
  • Símbolo: Três pinheiros encimados por coroa real medieval
  • Explicação: O Pinhal de Leiria, mandado plantar pelo rei D. Dinis

Comunidade Intermunicipal do OESTE

Apresento duas versões absolutamente diferentes (não me consigo decidir):

  • Versão 1:
    • Cor: Amarelo
    • Símbolo: Pêra
    • Explicação: A fruticultura da sub-região, particularmente a famosa pêra-rocha

  • Versão 2:
    • Cor: Azul intermédio
    • Símbolo: Ondas
    • Explicação: As ondas gigantes da sua costa, nomeadamente na Nazaré

Área Metropolitana de LISBOA

  • Cor: Púrpura
  • Símbolo: Cruz de Sant’Iago
  • Explicação: Boa parte dos castelos desta região foram reconquistados aos Mouros com importante contributo da Ordem de Sant’Iago
  • Nota: Corresponde à bandeira proposta em 1998 para a região de Lisboa e Setúbal

Comunidade Intermunicipal da LEZÍRIA DO TEJO

  • Cor: Verde
  • Símbolo: Campino a cavalo
  • Explicação: A sub-região corresponde em boa parte com a região tradicional do Ribatejo
  • Nota: O símbolo poderá ser mais estilizado do que o apresentado (foi o que consegui...)

Comunidade Intermunicipal do ALTO ALENTEJO

  • Cor: Verde
  • Símbolo: Cruz de Aviz
  • Explicação: Nesta sub-região fica a vila que dá nome à Ordem de São Bento de Avis
  • Nota: Corresponde à bandeira proposta em 1998 para a região do Alentejo

Comunidade Intermunicipal do ALENTEJO CENTRAL

  • Cor: Vermelha
  • Símbolo: Ruínas do Templo romano de Évora (vulgo, «Templo de Diana»)
  • Explicação: Importante monumento da sub-região
  • Nota: A cor não tem de ser necessariamente esta; escolhi-a por ser uma das cores da bandeira do município de Évora

Comunidade Intermunicipal do BAIXO ALENTEJO

  • Cor: Laranja algo claro
  • Símbolo: Sobreiro
  • Explicação: Árvore que domina a paisagem de montado da sub-região
  • Nota: A cor não tem de ser necessariamente esta, mas creio que o laranja claro transmite bem a sensação de calor

Comunidade Intermunicipal do ALENTEJO LITORAL

  • Cor: Azul intermédio
  • Símbolo: Golfinho
  • Explicação: Mamífero marinho existente no Estuário do Sado (e não sei se também na costa atlântica da sub-região)

Comunidade Intermunicipal do ALGARVE

  • Cor: Amarelo
  • Símbolo: Astrolábio
  • Explicação: Papel do Algarve na expansão marítima portuguesa (mito da dita «Escola de Sagres»)
  • Nota: É a bandeira já proposta em 1998